Mas as maiores dificuldades de Portugal com a União Ibérica residiam nas relações com a Holanda, parceira dos lusitanos nos negócios do açúcar e em luta com os espanhóis. A situação embaraçosa não tardou a transformar-se em conflito aberto. Ataques dos holandeses ao Recife em 1595 e à Bahia em 1599 antecipavam o que estaria por vir. A proibição de relação mercantis entre Holanda e Portugal , por ordem da monarquia espanhola , em 1605, aprofundou as desavenças. Em 1624, a cidade de Salvador caía em poder dos holandeses, só sendo recuperada no ano seguinte. Em 1630, foi a vez de Pernambuco , principal área canavieira da América portuguesa. Refúgio de Judeus, cristãos-novos e comerciantes ibéricos perseguidos pela Inquisição, a Holanda tornou-se o principal centro de transações econômicas da Europa no início do século XVII. O Banco de Amsterdã era a mais sólida e prestigiada instituição financeira européia no período. As intensas atividades mercantis , financeiras e manufatureiras propiciaram um grande acúmulo de capitais , que , por sua vez, tornou possíveis as operações coloniais e marítimas. A criação de companhias de comércio (1602, Companhia Das Índias Orientais; 1621, Companhia das Índias Ocidentais) permitiu que o governo e associações de comerciantes explorassem as colônias sob regime de exclusividade, empregado maciçamente seus capitais nessas atividades. A Companhia das Índias Ocidentais, dirigida para a região atlântica, promoveu a conquista militar de áreas canavieiras e sustentou a guerra contra as forças luso-brasileiras na América e África. Ao mesmo tempo que ocupavam áreas produtoras de açúcar , os holandeses tomaram pontos do litoral africano, de onde retiravam negros escravizados para os engenhos do Nordeste brasileiro. Controlando a produção, o refino e a distribuição , bem como a reposição da mão-de-obra envolvida, os holandeses tornavam o negócio do açúcar cada vez mais exclusivamente seu. Em 1637, consolidada a presença holandesa no Nordeste , foi enviado o conde João Maurício de Nassau - Siegen, que se tornou o governador e comandante militar das possessões holandesas. Mantendo o mesmo sistema de produção das plantations, o governo de Nassau conseguiu estabelecer boas relações com os produtores luso-brasileiros que viviam nas regiões ocupadas pelos holandeses. Apesar de protestante, Nassau defendia a tolerância religiosa. Assim, católicos e judeus que desejassem manter suas propriedades e atividades poderiam produzir como membros dos domínios holandeses. Uma parcela considerável preferiu formalizar essa espécie de pacto de convivência a retirar-se da região e abandonar seu patrimônio. Mais ainda , o governador ofereceu facilidades de créditos para que os engenhos abandonados e devastados pela guerra pudessem voltar a funcionar plenamente nas mãos de holandeses e luso-brasileiros. A conquista de grande parte da região Nordeste e o controle de áreas produtoras de açúcar permitiram aos holandeses obter grandes lucros. De parte a parte , as principais estratégias consistiam em utilizar os rendimentos obtidos com o açúcar para sustentar as necessidades militares e atacar áreas produtoras do inimigo e suas embarcações , que realizavam o transporte de produtos e escravos. Como escreveu Gaspar Barléu, os lusos brasileiros infestavam (com rapinas e devastações as terras vizinhas pertencentes aos nossos, a tal ponto que nem era seguro o trajeto entre Olinda e Recife".