" [...] Temos vivido, como nação, atormentados pelos "males" modernos e pelos "males" do passado , pelo velho e pelo novo , sem termos podido conhecer uma história de rupturas revolucionárias. Não que não tenhamos nos modernizado e chegado ao desenvolvimento. Fizemos isso de modo expressivo, mas não eliminamos relações, estruturas e procedimentos contrários ao espírito do tempo. Nossa modernização tem sido conservadora, aliás , duplamente conservadora. Em primeiro lugar, porque tem se feito com base na preservação de expressivos elementos do passado, que são assimilados , modernizados e tornados funcionais , alcançando tamanha força de reprodução que conseguem condicionar todo o ritmo e a qualidade mesma da mudança [...] . Trata-se , para ficar num exemplo fácil , do peso paralisante adquirido no curso do nosso capitalismo pelo latifúndio , capaz de resistir por décadas seja ao desenvolvimento nacionalista e popular de Vargas, seja à modernização autoritária do regime de 64. Em segundo lugar, porque tem se feito de modo não democrático, sem participação popular e sob o comando do Estado, desdobrando-se quase sempre de modo a ser hegemonizada por interesses conservadores. Foi assim que chegamos à época do capitalismo e da indústria e é assim que estamos caminhando para o século XXI".
-Nogueira , Marco Aurélio. As possibilidades da política: ideias para a reforma democrática do Estado . Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1998.p. 266.