Por que houve o golpe militar em 1964? Segundo os golpistas , o objetivo era acabar com a anarquia e a insegurança que levariam o país ao comunismo; os militares argumentavam também que era a única maneira de deter a inflação, que estava absurdamente alta, e de avançar no processo de industrialização já em curso. Politicamente , podemos dizer que essa fase divide-se em três momentos: de 1964 a 1968 e de 1974 a 1984. No primeiro momento , os militares editaram o Ato Institucional n¤ 1 (AI-1) , que suspendeu os direitos políticos de centenas de pessoas. Foram extintos os partidos políticos e criado o bipartidarismo , com a Aliança Renovadora Nacional (Arena) , de apoio ao governo, e o movimento Democrático Brasileiro (MDB) , oposição consentida. Todas as eleições diretas para cargos executivos foram suspensas. Nesses primeiros anos do golpe, ocorreram muitos atos públicos, principalmente de estudantes e trabalhadores , contra o regime militar. Os movimentos foram permitidos inicialmente , mas depois passaram a ser reprimidos com violência. A edição do Ato Institucional n¤ 5 (AI-5) , em 13 de dezembro de 1968, marcou o endurecimento do regime. Com isso, ficou bem clara a instauração da ditadura , que praticamente anulou a Constituição. O segundo momento correspondeu aos chamados "anos de chumbo", pois nessa fase houve intensa repressão aos movimentos organizados e às manifestações públicas e censura prévia à imprensa. O endurecimento aumentou a oposição ao regime , com a organização de movimentos guerrilheiros na cidade e no campo. Os militares reagiram com violência , colocando em prática as torturas , assassinatos e desaparecimentos de ativistas de esquerda e de pessoas que eles diziam conspirar contra a segurança nacional. Também nesse segundo momento o país iniciou um processo que foi designado de "milagre econômico" , pois houve um crescimento expressivo da produção nacional. Os últimos dez anos do regime militar (1974-1984) foram críticos para sua manutenção, pois em termos econômicos iniciava-se uma crise internacional decorrente do aumento explosivo dos preços do petróleo, e isso tinha reflexos diretos internamente. E, politicamente , a oposição ao regime iniciava sua ascensão , tanto no plano eleitoral quanto no dos movimentos populares , com a emergência de manifestações reivindicatórias, principalmente nas grandes cidades, por melhores condições de vida e de trabalho. As greves operárias ressurgiram e o movimento dos trabalhadores , com nova configuração , reestruturou-se gradativamente. Diante dessa situação , no governo do general Ernesto Geisel (1974 a 1979) foram dados os primeiros passos para a "abertura" do país. Inicialmente , Geisel precisou conter os vários setores das Forças Armadas que queriam a continuidade do regime militar ; depois , iniciou uma longa trajetória para promover uma transição lenta e gradual para a democracia representativa , sob a vigilância dos militares, tentando conter as manifestações políticas das ruas. Nessa última fase da ditadura aconteceram alguns fatos importantes que merecem ser lembrados. Em 1978 foi extinto o AI-5 , o ato institucional dos militares que tolhera radicalmente a liberdade no país. Em 1979 foi aprovada a lei da anistia , e centenas de exilados voltaram ao Brasil. Também nesse ano foi restabelecido o pluripartidarismo , o que abriu a vida política para outros partidos. O Partido Democrático Social (PDS) substituiu a Arena , e o MDB transformou-se no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Nasceram o Partido Trabalhista (PDT) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em 1982, o Partido dos Trabalhadores (PT) teve seu registro aceito. No último governo militar, o do general João Baptista Figueiredo , agravou-se a crise econômica e intensificaram-se os movimentos grevistas e as manifestações de protesto. Em 1984 , uma campanha por eleições diretas para presidente da República , conhecida como Diretas Já , agitou o país, e uma emenda à constituição foi votada com esse objetivo, mas não conseguiu ser aprovada no Congresso. Os militares decidiram que o governo deveria ter um civil na liderança , mas eleito indiretamente pelo Congresso Nacional, e isso ocorreu. Como vimos até aqui, o Estado brasileiro teve poucos momentos de efetiva democracia representativa , mesmo com a existência de uma constituição que se propunha definir os direitos dos cidadãos. Na prática , essa constituição estava sempre a serviço daqueles que ocupavam o poder e de quem os sustentava.